sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

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Artigos
2008-12-02
Memórias de quem não esteve lá
Por Thaís de Sá Fravoline *
Ricardo Stuckert
Thaís de Sá Fravoline
Laje do Muriaé. Este é o nome da minha cidade, uma pequena e pacata cidade do interior, comum, com pessoas comuns e histórias bem bizarras, eu diria.
Laje... Ponto de encontro nos finais de semana seja onde for: no Obelisco, na ponte, brincar de pique-esconde, sem ter que se preocupar.
Laje... Que guarda segredos dos casais apaixonados, segredos do escurinho do cinema, segredos que nem mesmo as fofoqueiras seriam capazes de revelar.
Horários rígidos para chegar em casa, obediência e devoção, essa era uma relação que hoje em dia não existe não.
E quando se uniam para contar aquelas histórias? Quem não sabe do Velho Diabo, Bastos Seco? Foi jogado no rio, o velho boiou; tocaram fogo, o velho ressuscitou... O jeito foi enterrá-lo na igreja, nem o diabo pôde com tanta esperteza.
A cachoeira, se falasse, diria: “Que saudade de quando os lajenses vinham pra cá!”. Eram dias gostosos, menos o domingo, que era dia de na casa da vovó almoçar.
Ainda sinto pena do escravo que foi arrastado pelo seu senhor, a quem ousou desonrar. “Morro do Arrastado, uma cruz nesse lugar hoje está. Velho coitado, sua rebeldia teve que pagar...”
Falando em rebeldia, chegamos a uma conclusão: não se fazem mais jovens como antigamente, não. Eles eram o que ouviam, tinham um não, sem antes perguntar o porquê, sem antes ter explicação.
As visitas à Torre não podiam faltar. Lá eles brincavam, mas hoje em dia é propriedade particular.
Carnavais de belas fantasias, becos e bastante folia vinham o povo animar. Já a Ciranda Esperança, com belas canções na madrugada, vinha o povo acordar.
Políticos menos espertos, menos corruptos talvez, mas o mensalão naquela época, pelo menos, não tinha vez.
E a cervejaria da cidade? Não me lembro, não sei, só que pelas histórias que me contam a rebeldia lá teve sua vez. Com a “noite da garrafada” quebraram todo o lugar, mais um ato de quem queria por seus direitos lutar.
Lugar de bêbados e mendigos amigos, bem-vindos eu sei, a velha Colombina se embelezava sempre mais uma vez. Humildade até para pedir esmolas: “Me da uma pratinha pra linha comprar? Tenho muitas roupas pra costurar”.
Enchentes... Até que era divertido, as pessoas aproveitavam a piscina natural para se banhar, os churrascos nessa ocasião não podiam faltar.
Independentemente de classe ou cor, os jovens tinham uma cultura a honrar, pois a escola de música, eles iam freqüentar, não por obrigação, mas por uma vontade que vinha do coração.
O prefeito “pé-de-chinelo” mostrou que na prefeitura tinha o seu lugar, mostrou ao povo sua humildade, humildade de quem soube governar.
Fica até bem difícil com os dias de hoje comparar, as coisas se perdem quando os anos nas costas vêm pesar.
A nostalgia minha mãe sente quando as histórias vem me contar, de coisas tão maravilhosas que viveu nesse lugar.



* Vencedora da Olimpíada de Língua Portuguesa na categoria memória. Estudante do C. E. Ary Parreiras, em Laje do Muriaé, Rio de Janeiro

Um comentário:

Renan disse...

hehe ! Parabéns !